CAP 18
Quinta-feira, 19 de
janeiro de 2012.
Querido Diário,
No café da manhã,
Zeca pediu pra sentar à minha mesa. Consenti, a gente tinha um mundo de coisas
pra colocar em pratos limpos. Comecei perguntando como foi o baile gaúcho em
que iríamos no domingo. Detalhe: o Samuel que tinha convidado. Ele contou que,
no dia do baile, chegou à fazenda perto da meia-noite pra me levar, mas eu não
tava no quarto e todos já dormiam, então ele foi sozinho. Confessou que tava
tentando se aproximar mais de mim pra tentar esquecer o Samuel, só que era
inútil: já tava completamente apaixonado. Os dois curtiram o baile juntos e, já
que ficou muito tarde, o Zeca dormiu na pousada do pai, onde o Samuel tá
hospedado. Segunda-feira, o Zeca passou na fazenda, mas não me encontrou. Só
deu um oi rápido e já saiu, nem soube que eu tinha me mudado pra pousada. Novamente,
ele acabou dormindo na pousada e, ontem, foi quando nos encontramos. Ele foi
falar com seu Valmir, afinal, Zeca era meu noivo e não tinha sido informado a
respeito disso. No entanto, seu pai não quis lhe ouvir, disse apenas “Não falo
com puto!” e virou as costas. Percebi que o Zeca tá sofrendo com o preconceito
dentro da própria família. Ele contou que, da família, só seu Valmir sabe que
ele é gay, por causa dos fofoqueiros
da pousada.
Entendi melhor a situação
do Zeca. Ele me pediu desculpas pelo modo como me tratou anteontem e,
principalmente, por ter feito de mim uma namorada de fachada. Eu não me
contive, as lágrimas escaparam. Pô, foram dois anos e, apesar de tudo, eu tava
noiva dele, sonhava em construir uma vida ao seu lado. Ele disse que sentia
muito. Olhei nos olhos dele, vi que sofria ao perceber o que tinha me causado.
Com carinho, segurei suas mãos, disse que o achava um cara legal e que queria
tê-lo ao meu lado pra sempre, como amigo, claro. Retirei a aliança de noivado e
entreguei a ele, que já não usava mais a sua. Ele me olhou com ternura e me
presenteou com um sorriso.
Almoçamos todos
juntos, eu, Karen, Samuel e Zeca. Soube que o Samuel é de Criciúma e tá
passando uns dias em Gaspar. A princípio, veio com um amigo, que já vazou. Ele
ia partir também, quando conheceu o Zeca e os dois se apaixonaram, foi algo à
primeira vista. Daí ele ficou. Gostei muito do Samuel, ele é bem engraçado e,
por mais estranho que seja ver meu ex-noivo com outro cara, já me acostumei.
Curtimos muito a piscina da pousada e, depois, demos uma volta pela cidade.
Quem não tá gostando nada dessa história é seu Valmir, dá de sacar nitidamente.
Percebo que o Zeca está triste com a reação do pai. O olhar que seu Valmir nos
lançava hoje emanava um ódio medonho, uma hora chegou a me causar arrepios.
Tenho medo do que pode acontecer.
BEIJOSDaLU
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