segunda-feira, 25 de março de 2013

Encontros e Desencontros-Capitulo 02


CAP II – Oportunidade
            Passei pelo supermercado, fiz as compras da semana, fiz um trajeto mais longo que o normal para distrair um pouco minha cabeça. Porém, o pensamento ainda estava fixo nas características da Dra., passando as cenas várias vezes na minha mente e ao mesmo tempo tentando encontrar algum motivo para tal ação. Eu estava ali justamente para conseguir um futuro melhor para a minha família, para a minha mulher, o que essa pessoa que apareceu totalmente casual na minha frente está fazendo nos meus pensamentos? Com um peso na consciência pego o celular para ligar para Laura.
            - Alô?
            - Oi meu amor.
            - Oi Re, ainda não consegui gravar esse seu número novo no celular. – Sinto que ela está um pouco relapsa e tento puxá-la para perto de mim o máximo que posso.
            - Tudo bem. Como está sendo o seu dia? O João está bem?
            - Foi tudo certo, meio corrido. Posso ligar para você depois? Acabei de chegar do trabalho e preciso pegar o João na casa de Érica.
            - Quem é Érica? – Fico indignado de uma hora para outra em imaginar que ela tomou outra decisão sem me consultar.
            - É a babá, Re. Beijos. Assim que eu chegar em casa, ligo.
            Não tive tempo de discordar ou concordar, apenas o silêncioabsoluto do outro lado da linha me informava que alguma coisa estava errada.
            Procurei novamente ocupar a minha cabeça com outras coisas para não ficar esperando o retorno de sua ligação ou não ficar tentado a ligar novamente. Tento encaminhar meus pensamentos para outros acontecimentos, logo me vem à mente as entrevistas do dia e dos dias anteriores, não é uma coisa muito boa a se pensar enquanto não tenho nenhuma resposta, então surge uma nova tentativa de desviar esses pensamentos. Procuro pensar nos acontecimentos cotidianos, e logo vem a cena do almoço no shopping. Sinto-me culpado por perceber que decido não afastar essa lembrança, pelo contrário, até curvo os lábios automaticamente formando um sorriso.
            O telefone toca no meu bolso, volto à realidade ao imaginar a voz de Laura do outro lado da linha. Chacoalho a cabeça como se estivesse paralisado em outro planeta e retorno à Terra. Porém, ao ver no visor do celular, percebo que não é Laura.
            - Alô?
            - Olá, Renato?
            - Sim, quem fala? – Pergunto apenas para confirmar, pois a voz é muito “familiar”.
            - Quem fala é a Dra. Natty. Gostaria de saber se você estaria aberto para mais uma entrevista. Um pouco menos formal.
            - Outra? Claro. Podemos marcar. Quando? – Acho estranho, mas aceito. Preciso enfim encontrar algo para me estabilizar.
            - Daqui uma hora um drink no bar do Hotel Mondrian. Até logo.
            Como assim daqui à uma hora? Já está anoitecendo. Começo a ter receio desse encontro. E se Laura ligar na hora? O que será que ela está fazendo? Que demora em me ligar.
            Na verdade eu que estou demorando em me arrumar para a nova entrevista. Ela mencionou “menos formal”, decidi colocar uma camisa gola V para atender sua solicitação e encaminhei-me até o local “combinado”.
            Ela não apareceu tão cedo, pareceu não se importar com o horário marcado, e isso acabou desanimando um pouco minha ideia de enfim conseguir algo para sustentar-me. Pedi um drink, não me pareceu normal estar sentado em um bar de hotel pedindo drink na situação financeira em que eu me encontrava, porém, não me pareceu nada normal também uma entrevista de emprego naquele local. Só me restava esperar. E esperei. Muito!
            Depois de quarenta minutos de atraso, ela apareceu totalmente despreocupada na saída do elevador.
            - Boa noite Renato. Calor,não? – Ela falou como se estivesse totalmente dentro do horário marcado, e eu não tive coragem de lembra-la, pois, enfim, ela estava ali.
            - É mesmo!
            - Está nervoso? Não, né?  - Ela perguntou sorrindo e sentando-se na banqueta ao meu lado como se estivéssemos nos encontrando para conversarmos sobre o nosso dia.
            - Um pouco. Tudo bem? – Resolvi ser informal também.
            - Por que você está aqui? – Ela perguntou ignorando a minha pergunta, mas não me importei.
            - Porque eu preciso de uma oportunidade. – Fui direto.
            - Oportunidade? Interessante! Quer um drink? – Só então ela realmente me olhou e viu um drink na minha mão. – Ah você já está servido. – Virando-se para o barman: - Um para mim, por favor.
            Com o passar dos minutos fui ficando ainda mais à vontade, e acredito que ela tenha percebido isso.
            - Mas, na verdade, pergunto o que você está fazendo nessa cidade.
            - Em busca de alguma chance profissionalmente. – Não pensei muito para responder e me arrependi logo em seguida.
            Com o olhar indignado ela me perguntou:
            - Você só sabe responder isso? Ninguém muda de cidade só para procurar emprego. O que mais você veio procurar?
            Não entendi onde ela estava querendo chegar, mas dessa vez pensei antes de responder. Primeiramente pensei no João em casa, logo pensei em Laura, pensei no nosso lar, daquele nosso jeito batalhado de erguer todas as paredes e de como conseguimos deixar tudo do jeito que ela sonhou, exceto essa fase que estamos passando e não esperávamos. Pensei em responder tudo isso, ou somente citar seus nomes, mas me senti inseguro. Será que eu vim até aqui somente para isso?
            - Não. Você não está aqui só pela sua família. Eu sei. – Ela interrompeu meus pensamentos como se estivesse lendo-os.
            Eu já estava ficando incomodado com o rumo que a conversa estava levando, mas deixei que ela dissesse o que quisesse, eu só precisaria de uma chance.
            - Eu não sei, estou aqui para descobrir. – Resolvi entrar no seu jogo, e percebi que ela gostou, pois logo tirou os olhos do gelo no drink e resolveu me olhar nos olhos.
            - Acho que eu posso ajudar então. O que você espera que eu faça para você?  - Essa pergunta me fez pensar, não queria responder mais uma vez um “não sei”, porém, eu realmente não sabia o que esperar dela.
            - Eu espero que você confie no meu potencial. – Pela primeira vez eu sorri, sorri para ela, não para parecer agradável, mas sorri ao me ver naquela situação, tão seguro e tão agarrado a um fio de esperança ao mesmo tempo.
            - Eu confio. Por que você não leva seus documentos amanhã para iniciarmos a rotina de admissão? – Ela perguntou e logo foi levantando-se para ir embora, acredito.
            - Mas espera aí, você não vai me falar sobre o  cargo?

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