segunda-feira, 8 de abril de 2013

Encontros e Desencontros- Capitulo 04



CAP IV – A Visita

            O que está acontecendo com a Laura? Como posso ficar tranquilo dessa forma? Ela está diferente, sinto isso, que vontade repentina é essa de trabalhar? Evito pensar, mas logo naquele lugar?
            Gostaria, mas não conseguia fingir que nada havia acontecido e que nada havia mudado, por isso resolvi ocupar minha cabeça com outras coisas que não fossem essas situações enigmáticas que estavam acontecendo longe do meu olhar. Preocupava-me muito com João, pois há dias não conversava com ele, mas será que ele sentia a falta de falar comigo?
            - Renato, a nossa empresa oferece plano de saúde para filhos e cônjuges. Percebi em seu cadastro que o senhor tem um filho de oito anos e uma esposa. O senhor tem interesse? – Deise entrou em minha sala sem bater e nem cumprimentar. Achei estranho, mas ignorei, talvez hoje não seja o dia dela.
            - Tenho interesse sim, Deise! Quais são os valores, as datas e as carências? – Eu nem queria saber nada sobre, mas resolvi puxar assunto para aos poucos ir descobrindo o que havia acontecido.
            - Eu imaginei que teria interesse. Aqui está a ficha de cadastro. O único problema é que sua esposa teria que assinar a ficha com seus dados. Você pode enviar pelo correio, isso demoraria alguns dias e eles teriam carência para alguns exames. Ou você poderia tirar o final de semana e ir até lá. – Ela estava começando a soltar um sorriso, mas percebi que era apenas o sorriso mecânico que uma recepcionista deveria ter.
            - É uma ótima idéia. Vou providenciar isso neste final de semana.
            - Tudo bem, aqui estão as fichas. Obrigada.  – Ela colocou os papéis em cima da minha mesa e saiu fechando a porta cuidadosamente. Fiquei curioso, e não era só coisa da minha cabeça.
            Apesar de estar sentido com Laura, a história de ir até lá visitá-los nem que fosse por um dia, me deixou animado. Peguei o telefone para ligar para ela, mas não o fiz. Passou-me na hora a idéia de preparar uma surpresa. Ela sempre adorou surpresas. Com certeza vou ter que fazer essa surpresa para ela.
            Aquela tarde de sexta-feira se arrastava em horas, providenciei tudo o que precisava, agendei horários e só me restava esperar que chegasse 17:48 h. e eu pudesse ir direto para a rodoviária encaminhar-me para cinco horas de viagem. Chegaria tarde da noite, mas ainda assim no sábado de manhã poderia acordar ao lado daquele perfume natural que só ela tem.
            - Oi Renato, como está lidando com as novas tarefas? Você sabe que qualquer coisa pode contar conosco, menos em relação a contas, por favor. – Disse Natty adentrando em minha sala igual à Deise, porém com um sorriso extremamente verdadeiro.
            - Estou me adaptando aos poucos. Deise veio me falar sobre o plano de saúde. Vou aderir e no final de semana irei visitar minha família para que Laura possa assinar a documentação. – Não contive a minha felicidade em relação ao meu final de semana e fui logo contando a ela, sem nem saber qual seria sua reação. Arrependi-me.
            - Por que você não envia isso pelo correio? – Ela parecia um pouco surpresa e arrisco dizer que senti um olhar decepcionado.
            - Quero fazer uma surpresa para eles. – Falei aquilo tentando convencê-la da importância que tinha eu ir atrás da minha família, mas ela apenas fixou o olhar para mim, e com aquele olhar demonstrou que achava tudo aquilo um grande absurdo.
            Enfim chegou 17:48h. e pude encaminhar-me para a rodoviária, onde iria comprar a passagem e em algumas horas estaria perto de Laura e João.
            O ônibus saiu exatamente as 18:15h. e eu não estava cabendo em mim de ansiedade. Estava me sentindo um adolescente distraindo-me com um fone de ouvido para não cair em tentação e ligar para Laura. Definitivamente eu estava no meu limite financeiro, mas valeria a pena tudo isso para ver a minha família. No meio do caminho até pensei no que diria naa hora que os visse, das novidades que teria que contar e no pedido que faria a eles: “Será que eles viriam morar comigo?” Melhor não pensar nisso agora, em breve conversaremos. Peguei no sono. Viagem longa, ansiedade eterna.
            No sonho,Natty vinha em minha direção na rodoviária, me impedindo de ir comprar a passagem, não conseguia ouvi-la, o sonho era silencioso, mas conseguia ver o seu rosto, com um olhar sedutor me puxando para o caminho oposto. Eu tentava gritar, mas a voz não saía, ela tentava me dizer alguma coisa, mas também nada saía. Com o passar da nossa “luta” ela foi adotando uma feição raivosa e decepcionada, um pouco mais grave que aquela de horas atrás. Eu não me importei, forcei-a para longe de mim e encaminhei-me para o posto de compra de passagens. “Que diabos ela estava tentando fazer? Eu quero ver a minha família.” Foi nisso que pensei e nada mais.
            Acordei com o peso do sonho e percebi que já havia sentado alguém ao meu lado. Uma senhora de idade que mexia em uma fotografia. Senti um alivio no peito, acho que ela também estava indo visitar a sua família. Comecei a pensar no sonho, sempre tive essa mania de querer desvendar o que se passava em minha cabeça enquanto eu dormia, sempre tentei buscar significados por trás dos acontecimentos mirabolantes que se passavam em minha cabeça na hora do sono. Por que Natty estava querendo me impedir de ver minha família? Será um aviso? Difícil acreditar, melhor esquecer isso e focar no caminho.      Avisto a janela e percebo que faltam apenas alguns minutos, já estou em Porto Seco. Já sinto cheiro de casa, cheiro de Laura, já vejo o João deitado em sua cama em um sono tão leve e eu contendo minha excitação para abraçar meu filho.
            Enfim parei uma rua a frente da minha casa, com apenas uma bolsa de roupa e as chaves de casa nas mãos vou encaminhando para o meu portão. Abro-o com cuidado, não quero assustá-los, apenas fazer uma surpresa às onze horas da noite. Com o mesmo cuidado, abro a porta de entrada que dá para a cozinha, a casa está com o cheiro de Laura. Não consigo conter o sorriso e meu coração pulsa de felicidade e ousadia a invadir a minha própria casa. Sigo direto para o nosso quarto para que possa vê-la primeiro e depois ver o que ela acha de chamarmos o João.  A porta está fechada, acho estranho, e ao mesmo tempo ainda melhor para poder me preparar para tal surpresa.
            Realmente foi uma grande surpresa ao abrir a porta e ver que Laura não estava em nosso quarto, meu sorriso se transformou em frustração, mas logo foi resgatado por um fio de esperança que me encaminhava até o quarto de João.  Mais um tapa levei ao ver o quarto do João vazio, não sabia se ligava, ou se ia até a casa de dona Regina. Era tarde, e já não tínhamos um relacionamento tão amigável. Liguei para o celular de Laura, infelizmente iria estragar a surpresa.
            As chamadas eram eternas, mas felizmente do outro lado da linha ela atendeu.
            - Alô?
            - Oi meu amor, tudo bem? – Tive que manter a calma antes de julgar qualquer coisa.
            - Tudo certo. Renato, não está tarde? Já estou deitada. – Senti um nó se formando em meu peito, mas precisava manter o autocontrole.
            - Desculpe acordá-la. Como está o João?
            - Está deitado também. Podemos conversar amanhã pela manhã? Estou com sono.
            - Tudo bem. Até. – Não esperei ela responder e desliguei. Não sei como consegui ouvir aquelas mentiras e não falar nada. Onde será que ela está? Por que está mentindo para mim? Passou-me um pensamento terrível pela cabeça ao perceber que Natty estava certa, que eu gastei minhas ultimas economias para saciar a saudade de quem não estava com nem um pouco de saudades minhas. Mas e se eu tivesse enviado pelo correio? Até quando isso iria durar?
            Não iria conseguir dormir, não tinha idéia de onde ela estava, pensei em ligar para Natty, mas para quê? Não estava sentindo orgulho algum em contar aquilo para alguém. Deitei-me no sofá, não consegui mais olhar para nosso quarto vazio. Com o olhar fixo para o teto, fiquei pensando em tudo o que construímos e onde tudo isso iria parar. Será que errado fui eu? Eu só estava querendo sustentá-los. “Laura, onde está você e nosso filho?”

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