segunda-feira, 27 de maio de 2013

Encontros e Desencontros-Capitulo 011


CAP XI – Aproximação

- Confeitaria Imperial, bom dia!
- Laura, você me ligou? Algum problema?
- Renato, calma, por favor? Quantas vezes preciso pedir para você não ligar para meu trabalho?
- Laura, fiquei preocupado e você não atende o celular. Não tive escolha.
- Não aconteceu nada Renato, eu apenas liguei para saber se está tudo bem.
- Está tudo bem Laura, só estou ansioso por sua resposta. Quero vocês aqui comigo.
- Você já encontrou apartamento?
- Já visitei um, mas não gostei. No intervalo do almoço pretendo ver mais dois hoje. Você virá então?
- Re, nós precisamos conversar, mas não agora, preciso desligar. Você não consegue vir até aqui? Depois nos falamos. Beijo.
Desligou. Acho que já estou me acostumando, nem estranho mais. Essa situação está ficando insuportável.
- Kelly, por favor, agende uma reunião com Claudia em minha sala.
- Pois não Seu Renato. Qual a pauta?
- Assuntos administrativos. – Ontem à noite, só Renato, agora novamente Seu Renato. Um exemplo de profissional. Há dias, apavorada com o acidente com Deise, hoje a mais eficiente profissional. Não consigo engolir essa mudança radical.
- Seu Renato, em dez minutos ela irá até sua sala.
- Obrigado Kelly.
- Disponha.
Saí da sala para ir até a cozinha buscar algumas garrafas de água com gás para abastecer meu frigobar, mas parei antes de chegar à recepção ao ouvir algumas vozes, uma aliás, além da Kelly. Alguém pedia que ela entregasse um molho de chaves à Jaque. O lavador, é claro. Segui em frente, chegando à recepção e surpreendendo com a ilustre presença.
- Bom dia Renato.
- Sr. Rubens, como está? Algum problema?
- Tudo bem, obrigado. Problema algum, passei para conversar com a Dra. Natty, porém parece que ela não possui agenda disponível, voltarei mais tarde.
- Certo, fique à vontade, por favor. Tenho uma reunião agora, com sua licença.
- Pois não, sinta-se em casa.
Essa arrogância desse investigador me causa ânsia de vômito. Não creio ter me enganado, era a voz dele. O que esse cara fazia com o carro de Jaque? Parece termos algo muito maior por aqui do que possamos imaginar.
- Olá Claudia, bom dia.
- Bom dia Renato, como posso ajuda-lo?
- Sente-se, por favor, Claudia. Eu gostaria de maiores detalhes sobre a contratação da Kelly, na realidade.
- Tudo que aconteceu eu já contei para Natty ontem, você já sabe.
- Claudia, mas tem algo muito estranho nessa contratação, eu havia lhe dado minha impressão sobre ela.
- Sim, mas você não se mostrou totalmente contra, além do que a Jaque me exigiu que resolvesse logo. Não tinha outra candidata Renato, por favor, me entenda. – Vi seus olhos encherem-se de lágrimas.
- Tudo bem Claudia, não fique assim, é só implicância minha mesmo. Desculpe-me por favor, assunto encerrado.
- Você precisa de mais alguma coisa?
- Sim, por favor, você sabe me dizer se Jaque já conhecia Kelly?
- Sim, claro, a Kelly é prima do Márcio, o marido de Jaque.
- Bem, desculpe-me mesmo Claudia e muito obrigado por sua atenção. Você pode ir.
- Com licença Renato. Bom trabalho.
- Obrigado. Igualmente Claudia.
Primos? Por quê? Por que essa informação não parece querer ser exposta? Preciso colocar as ideias em ordem. Tudo está ficando cada vez mais confuso. Antes disso, preciso tirar mais coisa a limpo.
- Kelly, por favor, você pode vir até minha sala?
- Pois não Seu Renato, um minuto só.
O telefone chamando.
- Alô.
- Renato, almoçamos juntos?
- Natty, desculpe-me, me comprometi a ver os dois apartamentos que estou com as chaves no intervalo do almoço. Fiquei de devolvê-las ainda hoje.
- Posso acompanha-lo?
- Claro Natty, pode sim, será um prazer. 12h?
- Combinado. Beijo.
- Beijo.
Onde está essa menina? Peguei o telefone novamente, quando bateu à porta e entrou.
- Com licença Seu Renato.
- Kelly, por favor, só Renato, da mesma forma que já me chamasse algumas vezes.
- Não entendi.
- Kelly, quem não está entendendo sou eu. Você pode me explicar? Você me encontra à noite, com um disfarce, no meio da rua, demonstrando estar com medo de tudo e de todos, de repente te encontro trabalhando no lugar de sua colega de quarto como se nada houvesse acontecido?
- Renato, eu estava assustada. Apavorada era a palavra certa. Deise tinha acabado de ser encontrada no fosso de um elevador. Como você estaria? – E as lágrimas começaram a rolar por seu rosto.
- Kelly, qual sua relação com Jaque?
- Nunca fomos muito próximas, mas sou prima do Márcio, seu marido.
- Entendo, mas por que não me contou isso na entrevista?
- Renato, eu não queria ser selecionada por ser parente de uma das proprietárias.
- Ok Kelly, pode ir, obrigado.
- Com licença.
Passei o restante da manhã tentando encontrar um fio solto nesse emaranhado misterioso e anotando todos os fatos considerados importantes ou não na minha visão. Uma moça aparece no fundo do poço do elevador, sua colega de quarto surge no meio da noite apavorada com o que podem ter feito com a amiga, as duas sócias amigas de séculos começam a se desentender do nada, de uma hora para outra. Um arrogante investigador encarregado do caso chega devolvendo as chaves do carro de uma das sócias, que se supunha estar na lavação por mais de um dia. A tal colega de quarto descobre-se ser prima do marido de uma das sócias e, sem explicação, é colocada a trabalhar no lugar da moça que faleceu, de forma atabalhoada, sem os procedimentos normais da clínica.
Antes que pudesse lembrar de mais algum item, o telefone me assustou.
- Renato, a Dra. Natty o está esperando na recepção.
- Ah, ok. Obrigado Kelly. Já estou indo.
Saímos num papo tão empolgante que quando nos demos conta, o elevador estava parando no subsolo. Enquanto ríamos de nossa própria distração, uma ideia me ocorreu e dei a mão à Natty, tirando-a do elevador e já sugerindo sair pela porta da garagem do prédio. Na realidade queria somente confirmar o que já era uma certeza. O carro de Deise, depois de um exagerado tempo na lavação, estava mais sujo de quando o vi saindo da garagem pela última vez.
Desci do primeiro apartamento muito mais animado do que havia visitado noutro dia, mas ainda não era o que eu queria. Entramos no táxi que nos aguardava e partimos para o próximo. E, ainda no táxi, resolvi perguntar de forma casual.
- Natty, eu não sabia que a Jaque era casada. Você também é?
- Não Renato, estou sozinha há anos. Não sei se a relação da Jaque pode ser chamada de casamento, mas é assim que ela a denomina, então precisamos nos acostumar. O menino acabou de fazer dezoito ou dezenove anos e vive à custa dela, nem estudar, estuda.
- Fiquei sabendo que ele é primo da nossa nova recepcionista, sabia?
- De repente a coisa se explica, então?
- Pois é, parece que sim.
Na realidade fiquei curioso para saber se ela também era casada, visto que nenhuma das duas usa aliança. Não sei por que, mas senti certo alívio em saber que ela não tem alguém. É muito bom fantasiar uma possibilidade, mesmo que remota, de ter algo com uma mulher tão deslumbrante como Natty. Não que não tivesse já fantasiado o mesmo com Jaque, mas é difícil explicar, com Natty é diferente, especial eu diria.
- Natty, esse é o apartamento que imaginei. O que você achou?
- Achei muito legal Renato, mas não é grande demais?
- É esse Natty, já estou tendo ideias, é esse, vamos à imobiliária? Vamos? Vem comigo. – E a abracei e comecei a cantarolar e dançar pela sala vazia. Ela sorria e me acompanhava suavemente, parecia deslizar. Aquele sorriso hipnótico de quando a vi pela primeira vez na clínica. Não sei de quem partiu o ímpeto, mas paramos imediatamente quando nossos lábios se tocaram, nossos braços deixaram nossos corpos colados e o beijo parecia anestesiar minha mente de todos os problemas e preocupações.

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