CAP X – Intromissões
- Renato, você viu o e-mail a respeito do meu endereço? – Natty abriu a porta de minha sala no fim da tarde e falou dali mesmo.
- Oi Natty, eu recebi sim, sei onde fica esse lugar. Estarei lá as 9. Não quer entrar?
- Não, obrigada, estou indo embora, tenho que passar no mercado antes. Algum prato preferido? – Ela sorriu de um jeito que me fez sentir intimo, senti uma felicidade momentânea lembrando nos primeiros anos de casado em que eu fazia essa pergunta para Laura todos os dias.
- Que tal um filé ao molho de Nata?
- Eu não sei se consigo fazer. Esse é o seu prato favorito? – Ela corou.
- Não se preocupe, eu faço.
- Não Renato, eu convidei você, só o que falta.
- Por favor, vou as 8 e faço, tudo bem? Assim você aprende também. – Comecei a arrumar minhas coisas para ir embora dando a entender que não aceitaria não como resposta.
- Tudo bem então. Não sabia desse seu lado Chef de cozinha.
- Por favor, não me subestime. – Sorri e acompanhei-a até saída.
Uma camisa simples, calça jeans e um tênis esportivo, queria estar casual para que Natty se sentisse a vontade em conversar sobre outras coisas que não fossem profissionais, ela estava precisando conversar, sair de todos aqueles problemas que surgiram de repente, e eu também precisava espairecer de alguma forma.
O endereço estava claro, mas demorei um pouco para encontrar, estava contente com o meu destino, tanto é que nem levei o celular, não queria ficar esperando por uma ligação de Laura.
- Oi Renato, você por aqui? – Quando me viro para ver a dona da voz, avistei Kelly.
- Oi Kelly, boa noite.
- O que você está fazendo por aqui?
- Eu vim dar uma volta, e você? – Fui educado em perguntar, mas estava louco para seguir meu caminho. – Jaque? De repente vi Jaque do outro lado da rua, ela viu que eu pronunciei seu nome e hesitou em atravessar.
- Renato, eu preciso ir. – Kelly respondeu me parecendo apavorada.
- Você veio se encontrar com Jaque?
- Nos vemos amanhã Renato. Até mais. – E saiu sem me dar oportunidade de saber algo mais, quando olhei para o outro lado da rua, nenhum sinal de Jaque.
- Bom dia Jaque! – Já a cumprimentei entrando em sua sala na primeira hora da manhã.
- Bom dia Renato. Que cedo, hein?
- Pois é, a secretária eficiente marcou uma reunião para nós, lembra? - Falei com a intenção de lembrá-la do acontecido de ontem à noite.
- Sabe que eu havia esquecido? Mas diga, do que se trata? – Percebi que não seria nada fácil.
- O investigador Rubens esteve aqui ontem conversando com você?
- Sim, esteve. Por que a pergunta?
- Encontramos com ele lá embaixo perguntando por você. – Eu não sabia onde estava querendo chegar, mas queria manter uma conversa duradoura a fim de retirar algo que explicasse o que estava acontecendo com Jaque.
- Encontramos? Você e Natty? Ah, estão bem próximos, não? – Ela não economizou na ironia. - Apenas companheiros de trabalho, Jaque. Você não gostaria de almoçar comigo também? Sabe, é bom conversar fora deste ambiente de trabalho, se você quiser conversar, saiba que você pode me procur... – Ela me interrompeu.
- Foi para isso a reunião? Convidar-me para almoçar?
- Não Jaque, por favor, entenda! Eu só quero deixar um clima agradável por aqui.
- Você não acha tudo isso muito agradável? Uma clínica de coaching pessoal. – Ela continuava com a ironia.
Seu telefone toca, no momento em que olhou o nome no visor, não conseguiu disfarçar o nervosismo.
- Preciso atender, Renato. – Ela levantou-se para atender e ficou caminhando pela sua sala. Fiquei imóvel onde estava.
- Oi Márcio, o que aconteceu? O carro? Para que você quer o carro agora? – Obviamente eu não conseguia ouvir do outro lado da linha, mas pude perceber que ela estava falando mais do que a outra pessoa. – Márcio, eu mandei o carro para a lavação. Ué, sempre tem uma primeira vez. Bom, estou em uma reunião, nos falamos depois. Beijos, querido.
- Algum problema? – Perguntei.
- Não, somente meu marido querendo o carro. – Ela respondeu sem olhar-me e logo se sentou novamente em sua cadeira.
- Não entregaram seu carro desde ontem ao meio dia?
- Não.
- E você não está preocupada? Geralmente precisam somente de um período para lavar. – Estranhei.
- Renato, você está um tanto intrometido demais ultimamente, não acha? Você chegou há poucos dias, já levou a minha sócia para almoçar, já estava dando opiniões sobre a nova secretária e agora criticando o serviço de lavação de carros da cidade. – Dessa vez ela falou tudo olhando direto em meus olhos.
- Tudo bem Jaque, me desculpe pela intromissão. Falamo-nos mais tarde, até logo.
Quando estava quase abrindo a porta, ela me chamou com uma voz tão doce, que nem consegui acreditar que vinha de sua boca.
- Renato!
- Sim?
- Pare de procurar motivos, foi um acidente. Deixe o investigador trabalhar.
Entendi o recado, mas não entendi porque naquela hora. Tive a impressão de vê-la totalmente amedrontada, da mesma maneira que estava ontem à noite quando me viu, suplicando para que eu não fosse a fundo nessa história, pois poderia encontrar algo que não queria.
- Eu sei Jaque, eu sei, vou deixar somente ele trabalhar. – Menti e encaminhei-me para a minha sala. Agora sim que eu começaria a investigar.
Ao aproximar-me de minha sala, já ouço meu telefone tocar, apresso o passo, mas ao abrir a porta a ligação é interrompida.
- Oi Kelly, você puxou a ligação da minha sala agora? - Pergunto pelo telefone, estava evitando olhá-la para não tirar conclusões a seu respeito, por enquanto.
- Sim, Seu Renato. Não sabia que o senhor já estava na sala, o telefone tocou mais de quatro vezes, aí puxei a ligação. Algum problema? – Se eu não a conhecesse e nem conhecesse sua história, poderia dizer que seria a secretária ideal, pois sua voz tinha segurança e ao mesmo tempo uma doçura harmoniosa.
- Não sei, você que vai me dizer se é algum problema. Quem era?
- Era Laura, ela disse que ligaria outro dia, perguntei se queria deixar recado, porém, não respondeu e desligou o telefone imediatamente.
- Obrigada. – Desliguei na hora e retornei para Laura, eu não podia acreditar que na única vez que Laura me ligou espontaneamente, eu não estava disponível.
O telefone tocava milhares de vezes, mas Laura não atendeu, deixei recados na caixa postal, liguei para Dona Regina, e ninguém me atendeu. Fiquei feliz, mas preocupado, poderia ter acontecido algo com João, ou até mesmo com ela, e eu não estava presente. Passei o dia inteiro angustiado olhando para o telefone a cada cinco minutos na esperança de ouvi-lo tocar e do outro lado da linha ouvir a voz de Laura calma dizendo que estava com saudades. Grande ilusão! Será que ela sabia que eu havia ido jantar com Natty? Mas como? Senti-me com um peso na consciência, mesmo que tivesse sido um encontro quase que profissional, não ficamos apenas falando de trabalho, muito pelo contrário, foi uma noite muito divertida, quando lembro dos momentos, sinto um alivio no peito e uma vontade estranha de cuidar de Natty, por que será?
- Renato, você viu o e-mail a respeito do meu endereço? – Natty abriu a porta de minha sala no fim da tarde e falou dali mesmo.
- Oi Natty, eu recebi sim, sei onde fica esse lugar. Estarei lá as 9. Não quer entrar?
- Não, obrigada, estou indo embora, tenho que passar no mercado antes. Algum prato preferido? – Ela sorriu de um jeito que me fez sentir intimo, senti uma felicidade momentânea lembrando nos primeiros anos de casado em que eu fazia essa pergunta para Laura todos os dias.
- Que tal um filé ao molho de Nata?
- Eu não sei se consigo fazer. Esse é o seu prato favorito? – Ela corou.
- Não se preocupe, eu faço.
- Não Renato, eu convidei você, só o que falta.
- Por favor, vou as 8 e faço, tudo bem? Assim você aprende também. – Comecei a arrumar minhas coisas para ir embora dando a entender que não aceitaria não como resposta.
- Tudo bem então. Não sabia desse seu lado Chef de cozinha.
- Por favor, não me subestime. – Sorri e acompanhei-a até saída.
Uma camisa simples, calça jeans e um tênis esportivo, queria estar casual para que Natty se sentisse a vontade em conversar sobre outras coisas que não fossem profissionais, ela estava precisando conversar, sair de todos aqueles problemas que surgiram de repente, e eu também precisava espairecer de alguma forma.
O endereço estava claro, mas demorei um pouco para encontrar, estava contente com o meu destino, tanto é que nem levei o celular, não queria ficar esperando por uma ligação de Laura.
- Oi Renato, você por aqui? – Quando me viro para ver a dona da voz, avistei Kelly.
- Oi Kelly, boa noite.
- O que você está fazendo por aqui?
- Eu vim dar uma volta, e você? – Fui educado em perguntar, mas estava louco para seguir meu caminho. – Jaque? De repente vi Jaque do outro lado da rua, ela viu que eu pronunciei seu nome e hesitou em atravessar.
- Renato, eu preciso ir. – Kelly respondeu me parecendo apavorada.
- Você veio se encontrar com Jaque?
- Nos vemos amanhã Renato. Até mais. – E saiu sem me dar oportunidade de saber algo mais, quando olhei para o outro lado da rua, nenhum sinal de Jaque.
- Bom dia Jaque! – Já a cumprimentei entrando em sua sala na primeira hora da manhã.
- Bom dia Renato. Que cedo, hein?
- Pois é, a secretária eficiente marcou uma reunião para nós, lembra? - Falei com a intenção de lembrá-la do acontecido de ontem à noite.
- Sabe que eu havia esquecido? Mas diga, do que se trata? – Percebi que não seria nada fácil.
- O investigador Rubens esteve aqui ontem conversando com você?
- Sim, esteve. Por que a pergunta?
- Encontramos com ele lá embaixo perguntando por você. – Eu não sabia onde estava querendo chegar, mas queria manter uma conversa duradoura a fim de retirar algo que explicasse o que estava acontecendo com Jaque.
- Encontramos? Você e Natty? Ah, estão bem próximos, não? – Ela não economizou na ironia. - Apenas companheiros de trabalho, Jaque. Você não gostaria de almoçar comigo também? Sabe, é bom conversar fora deste ambiente de trabalho, se você quiser conversar, saiba que você pode me procur... – Ela me interrompeu.
- Foi para isso a reunião? Convidar-me para almoçar?
- Não Jaque, por favor, entenda! Eu só quero deixar um clima agradável por aqui.
- Você não acha tudo isso muito agradável? Uma clínica de coaching pessoal. – Ela continuava com a ironia.
Seu telefone toca, no momento em que olhou o nome no visor, não conseguiu disfarçar o nervosismo.
- Preciso atender, Renato. – Ela levantou-se para atender e ficou caminhando pela sua sala. Fiquei imóvel onde estava.
- Oi Márcio, o que aconteceu? O carro? Para que você quer o carro agora? – Obviamente eu não conseguia ouvir do outro lado da linha, mas pude perceber que ela estava falando mais do que a outra pessoa. – Márcio, eu mandei o carro para a lavação. Ué, sempre tem uma primeira vez. Bom, estou em uma reunião, nos falamos depois. Beijos, querido.
- Algum problema? – Perguntei.
- Não, somente meu marido querendo o carro. – Ela respondeu sem olhar-me e logo se sentou novamente em sua cadeira.
- Não entregaram seu carro desde ontem ao meio dia?
- Não.
- E você não está preocupada? Geralmente precisam somente de um período para lavar. – Estranhei.
- Renato, você está um tanto intrometido demais ultimamente, não acha? Você chegou há poucos dias, já levou a minha sócia para almoçar, já estava dando opiniões sobre a nova secretária e agora criticando o serviço de lavação de carros da cidade. – Dessa vez ela falou tudo olhando direto em meus olhos.
- Tudo bem Jaque, me desculpe pela intromissão. Falamo-nos mais tarde, até logo.
Quando estava quase abrindo a porta, ela me chamou com uma voz tão doce, que nem consegui acreditar que vinha de sua boca.
- Renato!
- Sim?
- Pare de procurar motivos, foi um acidente. Deixe o investigador trabalhar.
Entendi o recado, mas não entendi porque naquela hora. Tive a impressão de vê-la totalmente amedrontada, da mesma maneira que estava ontem à noite quando me viu, suplicando para que eu não fosse a fundo nessa história, pois poderia encontrar algo que não queria.
- Eu sei Jaque, eu sei, vou deixar somente ele trabalhar. – Menti e encaminhei-me para a minha sala. Agora sim que eu começaria a investigar.
Ao aproximar-me de minha sala, já ouço meu telefone tocar, apresso o passo, mas ao abrir a porta a ligação é interrompida.
- Oi Kelly, você puxou a ligação da minha sala agora? - Pergunto pelo telefone, estava evitando olhá-la para não tirar conclusões a seu respeito, por enquanto.
- Sim, Seu Renato. Não sabia que o senhor já estava na sala, o telefone tocou mais de quatro vezes, aí puxei a ligação. Algum problema? – Se eu não a conhecesse e nem conhecesse sua história, poderia dizer que seria a secretária ideal, pois sua voz tinha segurança e ao mesmo tempo uma doçura harmoniosa.
- Não sei, você que vai me dizer se é algum problema. Quem era?
- Era Laura, ela disse que ligaria outro dia, perguntei se queria deixar recado, porém, não respondeu e desligou o telefone imediatamente.
- Obrigada. – Desliguei na hora e retornei para Laura, eu não podia acreditar que na única vez que Laura me ligou espontaneamente, eu não estava disponível.
O telefone tocava milhares de vezes, mas Laura não atendeu, deixei recados na caixa postal, liguei para Dona Regina, e ninguém me atendeu. Fiquei feliz, mas preocupado, poderia ter acontecido algo com João, ou até mesmo com ela, e eu não estava presente. Passei o dia inteiro angustiado olhando para o telefone a cada cinco minutos na esperança de ouvi-lo tocar e do outro lado da linha ouvir a voz de Laura calma dizendo que estava com saudades. Grande ilusão! Será que ela sabia que eu havia ido jantar com Natty? Mas como? Senti-me com um peso na consciência, mesmo que tivesse sido um encontro quase que profissional, não ficamos apenas falando de trabalho, muito pelo contrário, foi uma noite muito divertida, quando lembro dos momentos, sinto um alivio no peito e uma vontade estranha de cuidar de Natty, por que será?
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