segunda-feira, 17 de junho de 2013

Encontros e Desencontros-Capitulo 14


CAP XIV – Márcio?

- Natty, bom dia. – Invadi sua sala na primeira hora da manhã.
- Oi Renato. Isso é o que eu estou pensando? – Logo fixou o sorriso para a pasta da imobiliária que estava em minha mão. – Espero que sim.
- Sim! – Não escondi minha excitação. – Você tem certeza disso?
- É claro, Renato! Estou tão feliz quanto você. – Ele realmente era magnífico.
- Que ótimo! Só gostaria que Laura estivesse com esse ânimo todo também. – Deixei escapar esse apelo que estava retraído há alguns dias.
- Como assim? Ela deve estar achando o máximo, não? E o seu filho? Imagina Renato, certamente estão loucos para vocês viverem juntos novamente.
Não contrariei e preferi não entrar em detalhes das ultimas ligações com Laura, pois por um lado não queria envolvê-la com a minha família para que ela não se sentisse culpada em momento algum sobre o nosso beijo, e por outro lado sentia vergonha das atitudes repentinas de Laura, sentia vergonha e decepção de tudo o que eu estava fazendo por ela e de tudo o que eu estava recebendo.
Natty leu algumas linhas do contrato, ou simplesmente estava passando os olhos por aquelas palavras automáticas para me torturar, o fato é que fomos surpreendidos com o toque de seu celular.
- Oh, desculpe-me, onde está o meu celular? – Ela tirou os olhos do contrato e fez esforço para reconhecer o destino do toque.
- O som vem do sofá. – Fui me aproximando do sofá de sua sala.
- Você pode pegar para mim Renato, por favor?
Eu tentei pegá-lo sem olhar o visor, porém ele estava totalmente virado para cima, não queria parecer curioso ou intrometido em sua vida, afinal, ela era uma mulher livre e muito atraente, muitos homens deveriam estar aos seus pés. Porém, me surpreendi ao ver o nome “Márcio” no visor.
- Pronto. – Entreguei a ela totalmente intrigado e um tanto enciumado.
- Alô? – Ela logo atendeu, ignorando minha feição questionadora e assumiu um olhar preocupado. – Sim, falo com você mais tarde. Tchau. – A conversa foi absurdamente curta.
- Pronto, Renato, aqui está. Espero ter-lhe ajudado muito, fico no aguardo do filé. – Seu sorriso estava extremamente disfarçado por trás de alguma preocupação.
- Obrigado Natty, logo, logo marcamos o filé! Algum problema na ligação? Você parece preocupada. – Cheguei mais perto, seu perfume fazia-me lembrar daquela noite, daquele beijo e daquela sensação maravilhosa que foi tê-la em meus braços.
- Não, querido, nenhum. Tenho uma cliente agora. Almoçamos juntos? – Ela afastou-se bruscamente.
- Claro, aonde será hoje? Você sabe que eu não conheço nada por aqui ainda.
- Vou pesquisar algo por aqui e aviso. – Ela foi sentando-se e voltando-se totalmente para a tela do computador, ignorando minha presença.
- Tudo bem, aguardo. Ah, você sabia que Jaque volta hoje?
- É? Espero que venha bem descansada da viagem para a casa dos pais, não? – Não sei se era impressão minha ou se ela realmente mudou mesmo depois da ligação.
- Verdade. Bom trabalho, Natty!
- Renato! – Quando estava prestes a fechar a porta por inteira, ouço sua voz.
- Sim? – Torno a abri-la.
- Você fez o depósito que lhe falei ontem? Jaque vem hoje e você sabe como é, não?
- Sim, sei. Ainda não realizei, vou dar mais uma pesquisada em informações anteriores sobre esta ação e o farei.
- Renato, você não precisa pesquisar, já expliquei a situação. – Seu olhar demonstrava desespero disfarçado.
- Falo com você logo mais.
Antes de voltar para a minha sala, passei na recepção. Kelly estava ao telefone, fiquei no balcão no aguardo.
- Sim, Se... Renato?
- Kelly, Jaque já retornou?
- Ainda não, quer que eu tente no celular?
- Não, obrigado. Apenas me avise quando ela chegar.
- Tudo bem, disponha.
Voltei para a minha sala intrigado com a ligação e com esse depósito assim, de repente. Não existe apenas um Márcio nesse mundo, e Natty não teria o que falar com o marido de Jaque. Mas por outro lado aquela curta conversa a deixou tão balançada, que a vontade de cuidar juntou-se com os mistérios daquele local, me deixando nesse estado, totalmente desconfiado. Comecei a estudar as possibilidades e passei a considerar que talvez eu estivesse analisando coisas demais, Natty fez uma coisa por mim que poucas pessoas fariam, por que motivos eu iria desconfiar dela?
O dia estava extremamente agitado, muitas ligações e papéis para um dia só, ainda mais o dia em que eu deveria fazer o tal depósito anônimo. Queria poder olhar de perto essa história, sempre trabalhei com provas e documentos origem, para que nunca houvesse desencontro de algumas informações, já que trabalho com números e dinheiro, e um dinheiro um tanto alto para uma simples doação anônima. Todas as tarefas ficavam pendentes por causa deste questionamento, eu não tinha onde procurar e não queria incomodar Natty mais uma vez. Quando penso no que poderia fazer, o telefone toca, dando a solução.
- Renato, Dra. Jaque já está em sua sala, chegou faz dez minutos.
- Obrigado, Kelly!
Queria pegar os dados desse depósito para conversar com Jaque a respeito, porém, não havia nada, apenas a ordem de Natty. Sem provas e apenas argumentos, encaminhei-me até a sua sala, pronto para fingir acreditar que ela estava na casa de seus pais.
- Bom dia Jaque! – Sua porta estava aberta e me deparo com Jaque, como sempre, elegantemente vestida, totalmente voltada para a vista lá fora.
- Bom dia Renato, como você está? – Seu tom e sua feição estavam incrivelmente harmoniosos, diferente dos últimos dias que antecederam o passeio, se não tivesse falado com sua mãe, eu poderia jurar que ela esteve passando dias maravilhosos com a família e por isso voltou com aquela paz interior que transbordava em seus olhos.
- Eu estou bem. Como foi de viagem?
- Fui bem, obrigada! Você também deveria fazer isso, sabe? Visitar seus familiares faz um bem enorme.
- Vontade é o que não falta, mas essas passagens estão incrivelmente caras.
- Entendo... – Só então ela virou-se para mim e sentou-se em sua cadeira. – Então, o que lhe traz em minha sala?
- Eu estou com uma dúvida a respeito de algumas notas e gostaria de tirá-las com você. – Ela fixou-se em minhas mãos a procura de papéis, imagino. – Não tenho papéis e nada que comprovem esse depósito que Natty solicitou que eu fizesse.
- E você já o fez?
- Não, pois não encontrei nenhuma nota anterior ou qualquer outro documento solicitante.
- E você falou isso para Natty?
- Sim, claro!
- E ela disse para você fazê-lo mesmo assim, imagino. – Ela já não olhava mais para mim, e sim para seu computador, mostrando total indiferença.
- Sim, mas creio que não seja seguro.
- Bem, Renato, eu também não tenho nenhum papel a respeito desse depósito, pois combinamos de fazê-lo confidencialmente, sempre foi feito sem problemas, a sua segurança será nossa palavra. Você pode realizá-lo.
- Mas Jaque, não é normal que se faça um depósito com essa quantia sem comprovação nenhuma, me desculpe a insistência, mas não me sinto seguro em prosseguir com isso.
- Também vou pedir desculpas pela indelicadeza, mas você deve fazer esse depósito, você está aqui há pouco tempo, o que lhe faz pensar que nossa palavra não seja segura? Agora, por favor, preciso trabalhar. – Ela estava voltando ao seu estado arrogante normal.

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