segunda-feira, 10 de junho de 2013

Encontros e Desencontros Capitulo 13


CAP XIII – Jaque

- Olá, boa tarde Kelly!
- Boa tarde Seu Renato!
- Kelly, pensei que já havíamos combinado que me chamaria apenas de Renato. Algo mudou de ontem para hoje?
- Desculpe-me, por favor, Renato. É apenas uma forma profissional que me acostumei com o tempo. Prometo tentar me readaptar.
- Tudo bem Kelly, só acho estranho essas mudanças de acordo com o ambiente, só isso. Natty está na empresa?
- Não, somente a Claudia já vi chegar. Eu aviso o senh..., é..., você, quando ela chagar.
- Não é necessário, mas obrigado Kelly. Você não foi almoçar?
- Sim, almocei no Shopping com um amigo, acabei de chegar também.
Voltei para sala intrigado, apesar de tudo eu esperava uma mentira maior, do tipo “não saí Seu Renato!”. Eu não a vi almoçando, na realidade, mas também ela não teria obrigação de me contar. E Jaque? Visitar os pais no meio da semana? Isso é normal? Vamos ver. Minha senha tem acesso liberado ao Sistema de RH, devo encontrar o telefone dos pais dela lá.
- Alô!
- Alô, boa tarde!
- Boa tarde, com quem deseja falar?
- Meu nome é Renato, estou falando com a mãe da Jaque?
- Sim, ela mesma, aconteceu alguma coisa?
- Não, por favor, fique calma, nada aconteceu. Sou um ex colega de universidade e estou tentando reencontrá-la. Ela está em casa?
- Não meu filho, ela mora na capital, possui uma empresa lá com outra colega de vocês, a Natty.
- Nossa, que legal, muitas saudades delas. A senhora pode me conseguir o telefone delas?
- Claro, só um minuto, por favor.
- Eu aguardo, obrigado.
Três minutos depois.
- Meu filho, o telefone é 5177-2112. Esse é o telefone da clínica. Por favor, diga à Jaque que seus pais estão com saudades, desde o último Natal que ela não nos visita.
- Direi sim, muito obrigado pela informação. Até logo.
- Tchau meu filho.
Jaque, Jaque, o que está acontecendo? Onde você está? O que você fez? Preciso falar com um certo investigador. Não acho uma boa ideia deixar Kelly saber disso, vou até a delegacia.
- Kelly, por favor, se Natty me procurar, diga que precisei ir até a imobiliária. Estou alugando um apartamento. Ela está ciente.
- Certo Renato, pode deixar.
Desta vez foi mais fácil encontrar a bendita delegacia e, para minha sorte, o arrogante investigador estava no local.
- A que devo essa ilustre visita meu caro Renato?
- Boa tarde Rubens, desculpe-me não telefonar antes, mas precisava lhe trazer algumas informações.
- Não se desculpe, por favor, estou à sua disposição.
- O que houve com o carro de Jaque?
- Você está me trazendo informações?
- Rubens, preciso saber se posso realmente confiar em você, aliás, quero saber se posso confiar em alguém.
- Entendo Renato, pelo que já levantamos de informações suas, creio que podemos confiar em você. Jaque me solicitou que verificasse se seu carro não estava sendo monitorado através de algum dispositivo de rastreamento. Ela ficou muito impressionada com o acontecido. Nada foi encontrado no carro dela.
- Você sabia que nossa nova recepcionista é prima do marido de Jaque e dividia o apartamento com Deise?
- Sabia que ela dividia o apartamento, pois a tinha interrogado no local, porém esse parentesco é uma novidade realmente. E ela foi contratada por esse motivo?
- Parece-me que sim, o processo não foi muito transparente como se esperava.
- Como assim?
- Eu entrevistei a moça, porém meu retorno ao RH foi que aguardássemos novas candidatas, mas para surpresa de todos, ela surgiu contratada de uma hora para outra, por decisão de Jaque, que fiquei sabendo hoje não visita os pais desde o último Natal, quer dizer, seis meses.
- E ela deveria ter visitado?
- Era o que havia dito que estava fazendo no dia da morte da Deise, não foi?
- Pelo que me consta, ela estava curtindo um final de semana romântico, com seu marido, num bangalô daquela pousada das casinhas coloridas na rodovia de acesso a Serra do Leopardo. Fugiu-me o nome agora.
- Parece-me que você está realmente mais bem informado do que eu, nem sei o que lhe dizer. Espero que eu tenha ajudado de alguma forma.
- Fique tranquilo Renato, estamos atentos a todos os acontecimentos, mas qualquer novidade, por favor, nos comunique. Muito obrigado.
Final de semana romântico? Acho que vou enlouquecer. Existe algo que conecta esses três, ou quatro talvez, pois esse investigador parece saber muito mais do que permite deixar escapar. Por que não poderia contar que estava com seu marido? Talvez não estivesse suficientemente longe?
Bem, vou tentar me desligar um pouco dessa loucura. Vou resolver de uma vez esse aluguel e tratar de trazer Laura e João para perto de mim. Eles também não estão seguros perto daquele cara.
Passei na imobiliária para devolver as chaves e fechar o negócio do apartamento escolhido, mas não sei onde estava com a cabeça quando imaginei que permitiriam que eu assinasse um contrato de aluguel sem garantia alguma, apenas com uma carteira assinada dentro do prazo de experiência. Até o seguro que oferecem, nesse caso é caríssimo. Como vou conseguir um avalista numa cidade onde não conheço ninguém?
- Boa tarde Kelly! Alguma notícia de Jaque?
- Boa tarde Renato! Ela deixou avisado que estará amanhã aqui.
- Natty está?
- Oi Renato, me procurando? – ao me virar sou surpreendido por aquele sorriso que desarma qualquer um. Não havia notado esse decote mais cedo, ela sabe realmente como absorver todas as atenções.
- Olá, cliente agora?
- Não, tenho alguns minutos ainda e, a propósito, também estava à sua procura. Por favor, depois me confirme se foi realizado um depósito a favor do laboratório de pesquisa da universidade. Pode ser depois, agora vamos até minha sala?
Enquanto caminhamos em direção à sua sala, pude notar com mais detalhes o lindo sapato que tornava aquelas pernas tão cobiçadas pelo efeito que lhe faziam os saltos de altura indescritível.
- Natty, eu não realizei realmente esse depósito que você me perguntou porque não encontrei nenhum documento fiscal que reconhecesse esse pagamento. Deixei para questionar em nossa reunião semanal.
- Você pode efetuar o depósito Renato, trata-se de uma contribuição que realizamos mensalmente à universidade para incentivo à pesquisa.
- Mas nesse caso vou solicitar um recibo correspondente para podermos nos beneficiar com uma dedução no imposto de renda.
- Renato, combinamos realizar essas contribuições de forma anônima. Por favor, apenas efetue o depósito. E como está a questão do apartamento? Já alugou?
- Natty, ainda não sei como farei, na verdade. Parece que é meio impossível alguém de fora da cidade, recém chegado, alugar um apartamento por aqui.
- Como assim?
- A alternativa viável é conseguir um avalista numa cidade onde não conheço ninguém.
- Renato, você até me ofende falando assim. Traga logo esse contrato para assinarmos e podermos marcar outro filé magnífico daquele na inauguração do novo AP.
- Natty, você é surpreendente. Você realmente faria isso? Acho que nem as pessoas da minha cidade, que conheço desde que nasci, fariam.
- Se você não trouxer esse contrato amanhã, eu desisto. Apresse-se.
- Natty, você vai comer o melhor filé de toda sua vida, eu prometo.
- Eu espero que sim. – O esforço para resistir a esse sorriso é desumano. Será que devo aceitar realmente seu aval no aluguel e alimentar ainda mais essa situação?
A próxima cliente chegou e fomos interrompidos por uma ligação de Kelly. Providencial, eu diria, assim posso pensar melhor a respeito disso tudo.
- Kelly, por favor, você pode realizar uma ligação para Laura, minha esposa, e transferir para minha sala?
- Sim, claro, o número está no Sistema?
- Sim, está no meu cadastro. Obrigado Kelly, eu aguardo.
Preciso programar um final de semana em Porto Seco, estou morrendo de saudades. Não consigo entender por que Laura está tão diferente. Tudo que sempre sonhamos está tão perto de se realizar e nem parece que idealizamos tudo numa parceria inigualável. A ideia de que aquele ser asqueroso esteja se aproximando de meu João chega a me provocar enjoo.
- Alô?
- Renato? Tudo bem?
- Oi Laura, meu amor, que saudades. Tudo bem? Como está o João?
- Tudo certo Re, mas você sabe que não gosto de falar daqui.
- Laura, você fica de me ligar, mas nunca liga. Preciso de vocês. Encontrei o nosso apartamento. Quero vocês logo aqui comigo.
- Re, por favor?
- Por favor? Laura, você é minha esposa. O que está acontecendo?
- Re, isso já está parecendo neurose sua. Não vou simplesmente deixar minha cidade e partir para uma aventura com um filho embaixo dos braços.
- Laura, é neurose querer viver com minha esposa e meu filho?
- Renato, não distorça os fatos ou as palavras. Não decidi nada ainda, mas você será o primeiro a saber, estou muito feliz que esteja tudo caminhando bem, só não podemos nos deixar levar pelo entusiasmo do momento. Fique tranquilo, apenas precisamos decidir as coisas sem colocarmos o futuro do João em risco. Agora preciso desligar, fique bem Re. Até logo.
- Tchau Laura. Beijo. – Cada dia que passa sinto Laura mais longe. Não consigo mais segurar minhas lágrimas. Chorei copiosamente por pelo menos cinco minutos. Na verdade, parei somente quando Claudia bateu à porta para entregar algumas notas de serviço da área de RH para serem lançadas.

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